O primeiro registro do lipedema foi escrito pelos médicos Edgar Alphonso Hines Jr. e Edgar Van Nuys Allen, cirurgião cardiovascular famoso pelo teste de Allen, publicado na revista Mayo Clinic na sessão Vascular Clinics.
Naquela época, era chamada de uma doença do tecido conjuntivo frouxo e agora é também conhecida como síndrome de Allen-Hines (ALLEN; HINES, 1940). Moura e sua equipe (2020) descrevem a condição como um aumento simétrico nos glúteos, quadris, pernas e membros superiores.
É uma doença hereditária, o que significa que pode passar de pais para filhos, e é crônica e progressiva. No entanto, diagnosticar o lipedema pode ser difícil porque pode ser confundido com obesidade e linfedema.
A confusão no diagnóstico se dá até mesmo em casos isolados da doença, principalmente nas fases iniciais ou mais avançadas, como é ocaso do estágio IV da doença, em que ocorre o denominado estado de lipolinfedema, e quando associados a outras comorbidades a confusão se acentua (RAPPRICH et al., 2015; AMATO & BENITTI, 2019; AMATO; MARKUS; DOS SANTOS, 2020).
A partir dessas pesquisas é que o lipedema é descrito como uma deposição anormal de gordura em glúteos e pernas bilateralmente que pode ser acompanhada por edema ortostático.
Já a palavra tumor é “Termo genérico para indicar aumento de volume localizado; crescimento mórbido de tecido;neoplasma”. No caso do tumor o crescimento fica restrito a uma determinada região do corpo, diferente do lipedema que possui um crescimento difuso.
Existe tumor de gordura?
Sim, existe tumor de gordura e pode ser classificado como maligno ou benigno.
Os tumores benignos incluem os lipomas (CID D17), que são massas compostas por células de tecido adiposo (adipócitos) envolvidas por uma cápsula fibrosa logo abaixo da pele, no tecido subcutâneo, ou dentro de músculos. São chamadas de “bolinhas de gordura”.
É importante diferenciar o lipoma do lipedema (CID E65) para garantir o tratamento correto, já que são condições distintas com abordagens terapêuticas diferentes.
O lipoma, sendo um verdadeiro tumor de gordura, se manifesta como protuberâncias localizadas entre a pele e a camada subjacente de músculo, crescendo lentamente e geralmente sendo inofensivo, podendo ocorrer em diversas partes do corpo que possuam tecido gorduroso, não se limitando apenas a pernas e braços.
Embora raramente cancerígenos, algumas pessoas podem desenvolver mais de um lipoma, sendo, na maioria das vezes, assintomáticos.
A lipomatose (CID E88) é outra condição, não relacionada ao lipedema, que envolve o surgimento de vários lipomas, ou até mesmo, grandes massas de gordura.
Também conhecida como lipomatose simétrica múltipla, doença de Madelung ou adenolipomatose de Launois-Bensaude, essa condição caracteriza-se por pequenos tumores benignos de células de gordura que se acumulam principalmente na região do abdômen e das costas.
A Lipomatose Múltipla Familial é um transtorno genético da hipoderme, manifestando-se com a formação lenta e progressiva de nódulos.
Por fim, o lipossarcoma (CID C49.9) é um tumor raro de gordura que se origina no tecido gorduroso e pode se espalhar para outras partes moles, como músculos e pele.
Representando de 9,8% a 18% de sarcomas de tecidos moles, o lipossarcoma é a segunda variante histológica mais comum entre esses tipos de cânceres.
Lipoma
Um lipoma é basicamente um tumor benigno composto por células de tecido adiposo, que é o tipo de célula responsável pelo armazenamento de gordura. Esses lipomas geralmente se desenvolvem sob a pele e são encapsulados por uma camada de tecido fibroso.
Eles costumam ser suaves ao toque e móveis, podendo ser referidos como “bolinhas de gordura”. Embora a palavra “tumor” possa soar alarmante, é importante destacar que lipomas são quase sempre inofensivos. Crescem lentamente e, na maioria dos casos, não causam dor.
O tratamento para lipomas geralmente não é necessário, a menos que causem desconforto ou preocupação estética. Em situações em que a remoção é desejada, é uma intervenção cirúrgica simples e segura.
No entanto, é crucial que qualquer nódulo ou crescimento suspeito seja avaliado por um profissional de saúde para garantir um diagnóstico preciso. Estou aqui para esclarecer qualquer dúvida adicional que você possa ter sobre o lipoma.
Por Riyaskasim – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, lipoma cápsula fibrosa
Gordura do Lipedema
Existem algumas condições do tecido gorduroso que podem parecer tumores, como lipoma, lipossarcoma, e doença de Dercum, mas o lipedema não se encaixa nessa categoria.
Na imagem abaixo temos uma imagem comparando a gordura comum com a gordura do lipedema.
Fonte: https://www.lipedema.net/lipedema-nodules-manual-extraction.html
No entanto, o problema vai além da nomenclatura e está relacionado à estigmatização de uma doença mal compreendida.
O termo “tumor” maligno ou benigno, pode assustar, pois é associado a doenças graves. Isso pode criar um desejo de remoção imediata, o que não é apropriado para o lipedema.
O psicológico, especialmente nas pessoas com lipedema, pode ser afetado por anos de negligência e acusações infundadas de obesidade e outras condições.
O uso do termo “tumor” não é apenas uma simples palavra, inconscientemente, sugere a necessidade de extirpação imediata, o que não é verdade para o lipedema. Isso contribui para a estigmatização das pacientes.
É preciso compreender que a lipoaspiração, quando usada como parte do tratamento, pode ser uma ferramenta útil no controle do lipedema.
É importante ressaltar que, sem um tratamento conservador contínuo, os sintomas podem retornar em pouco tempo após a cirurgia.
Porém antes de buscar uma cirurgia para Lipedema, é preciso esclarecer algumas dúvidas:
- A lipoaspiração não cura o lipedema; é apenas uma das muitas ferramentas para aliviar os sintomas.
- A lipoaspiração para lipedema não afeta a causa principal da doença, que é genética, hormonal e relacionada à alimentação.
- A lipoaspiração não elimina a necessidade do tratamento conservador para pacientes com lipedema, e o termo “tumor” pode dar a ideia errada de que a retirada da gordura resolve completamente a doença.
- A cirurgia não é apropriada para todos os casos de lipedema.
- A grande maioria das pessoas com lipedema, cerca de 11% das mulheres, consegue controlar os sintomas sem recorrer à cirurgia.
- A cirurgia não deve ser a primeira opção de tratamento, especialmente sem tentativas anteriores de tratamento clínico.
- A cirurgia, na maioria das vezes, é paga particularmente e não é coberta por planos de saúde ou pelo SUS, tornando-a inacessível para a maioria das pacientes.
- Optar por não realizar um procedimento erroneamente visto como curativo permite que as pacientes com lipedema explorem diversas técnicas gratuitas ou de baixo custo.
- A ansiedade, comum no lipedema, tem o potencial de piorar os sintomas.
- O lipedema é uma condição genética com alterações vasculares no sistema linfático, influenciada por fatores hormonais, alimentação e estilo de vida.
Por isso é importante buscar opções conservadoras, como a lipoaspiração para o tratamento do lipedema, que é uma das técnicas que podem auxiliar no controle da doença.
Referência Imagem 1:
Sebastian E Valbuena, Greg A O’Toole and Eric Roulot – Sebastian E Valbuena, Greg A O’Toole and Eric Roulot: Compression of the median nerve in the proximal forearm by a giant lipoma: A case report. In: Journal of Brachial Plexus and Peripheral Nerve Injury 2008, 3:17 doi:10.1186/1749-7221-3-17 (Open Access Article, published under cc-by-2.0), CC BY 2.0, wikipedia